O recado de López Obrador a um establishment desesperado – Por Gerardo Villagrán del Corral

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Por Gerardo Villagrán del Corral*

A pouco mais de duas semanas da eleição presidencial e legislativa de 1º de julho, cresce a tensão no México, marcada por altos níveis de violência – 113 assassinatos de candidatos –, a guerra suja midiática, os ataques da oligarquia local e transnacional ao candidato de centro-esquerda, as repetidas violações à lei eleitoral e as manobras do aparato estatal para impedir que Andrés Manuel López Obrador chegue ao poder.

O terceiro debate entre os quatro candidatos à presidência, na noite de 12 junho, não mostrou nada de novo e teve a mesma dinâmica dos dois anteriores: os adversários atacaram o candidato opositores de centro-esquerda López Obrador, que lidera comodamente segundo as pesquisas, tentando matá-lo politicamente.

Driblando os temas abordados no encontro – o crescimento econômico, a desigualdade, a pobreza, a educação, a ciência e a tecnologia, e saúde e o desenvolvimento sustentável – e sabendo que era a última oportunidade de um confronto direto, os candidatos preferiram promover uma troca direta de acusações de corrução uns contra os outros.

Algo no qual o próprio governo participa ativamente, já que optou, no dia 7 de junho, pela velha tradição do “vídeo-escândalo político”, não para incriminar López Obrador, e sim para denunciar as já conhecidas manobras de lavagem de dinheiro de Ricardo Anaya, candidato da direita mais conservadora, do PAN (Partido do Acordo Nacional) e segundo colocado nas pesquisas, com 24% das intenções.

A difusão de um áudio e um vídeo sobre a lavagem de dinheiro por parte de Anaya em seus negócios de compra e venda de imóveis em parques industriais do Estado de Querétaro deixou o Anaya em maus lençóis, e ele devolveu o golpe com outro ataque, (canalha) contra López Obrador, acusando-o de supostamente já ter pactuado com o partido governista PRI (Partido Revolucionário Institucional) a impunidade de políticos corruptos da atual administração em troca de que o presidente Enrique Peña Nieto se incline a seu favor no processo eleitoral.

López Obrador respondeu dizendo que realizou sim pactos e acordos, mas com os movimentos sociais e organizações populares, que deram lugar à construção de um amplo acordo de unidade – a coalizão Juntos Faremos História – para empreender a transformação do país através de uma ampla frente de partidos, com um perfil plural, pluriclassista, diverso e heterogêneo.

Dessa aliança ampliada nasceu uma proposta de gabinete na que há pessoas com experiência na administração pública, juristas, dirigentes sociais e intelectuais, apresentando um equilíbrio entre os vários partidos, correntes, ideologias e setores, além de promover uma estrita paridade de gênero.

O Projeto de Nação 2018-2024 é um (que está disponível no site: www.proyecto18.mx) é um documento elaborado com o propósito de ser o embrião de um novo pacto social para um país que carece de tal resolução. O candidato governista José Antonio Meade apresentou o programa “México que merecemos”, com um discurso cheio de promessas, enquanto Anaya, mais preocupado em captar votos através das acusações aos adversários, não apresentou propostas com profundidade ou seriedade.

Vale tudo para não perder o poder

Para o analista político José Luis Ríos Vera esta nova ofensiva do governo de Enrique Peña Nieto guarda duas cartas debaixo da manga: a tentativa de Ricardo Anaya para buscar somar seus votos ao do seu próprio candidato, José Antonio Meade, da coalizão “Todos Por México”, que está em terceiro lugar com 20%, e obrigá-lo (sob a ameaça judicial) a assinar um pacto oligárquico que supõe a renúncia da sua candidatura para apoiar um bloco de direita que seja capaz de se impor ao centro-esquerdista López Obrador.

A outra carta escondida por Peña Nieto, para o caso de fracassar a estratégia de uma aliança eleitoral de última hora PRI e o PAN: a fraude eleitoral, um artifício que o PRI utilizou tantas vezes.

Enquanto a classe empresarial guarda silêncio, após a pressão feita aos trabalhadores de suas companhias para que não entreguem o seu voto ao candidato progressista, na espera do acionar do governo e suas instituições, num marco de crise de legitimidade, instabilidade política, endurecimento autoritário, militarização, crise de credibilidade da democracia formal, exploração dos trabalhadores, pobreza e escassas condições de proteção e segurança no trabalho.

Sem dúvidas, este panorama explica por si só a permanência de López Obrador como o favorito absoluto dos eleitores, com um discurso contra a dinâmica neoliberal na condução do Estado e da política econômica e social, bases de um conflito de classes profundo que o México enfrenta há décadas.

Isso explica o desespero de um poder fático, que se fez dono do México por um século, que vê o seu status ameaçado e está disposto a tudo para não perder seus privilégios. O tempo está acabando: o que mais podem fazer para tentar impedir que López Obrador chegue à Presidência?

(*) Gerardo Villagrán del Corral é antropólogo e economista mexicano, associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

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