Brasil: Primera obra de teatro en lengua africana

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Quaseilhas é a primeira peça em idioma africano

Uma visita às memórias para lembrar do futuro. A busca por sair dos limites do tempo. É de tudo isso que é feito o Quaseilhas, com concepção, direção e oríkì de Diego Pinheiro (A Bunda de Simone, Oroboro e Arbítrio), que faz temporada de estreia de 12 a 29 de abril, de quinta a sábado, às 19h e aos domingos, às 18h30, no Forte do Barbalho. A obra cênica faz um trânsito entre as lacunas da memória afro-diaspórica, tendo como ponto de partida as memórias familiares do criador e dos seus colaboradores, Laís Machado, Diego Alcantara e Nefertini Altan, mesclando visualidades, canto e performatividades.

Quaseilhas é a primeira obra cênica autoral brasileira integralmente em idioma africano, o yorùbá. A escrita se deu através da estrutura do oríkì, literatura oral dos povos yorùbá, como linha de acesso aos vazios dessa memória e como ferramenta de criação dentro desses espaços vagos. A pesquisa e o espetáculo contam com o apoio financeiro do Fundo de Cultura do Estado da Bahia, através do Setorial de Teatro 2016 – 22/2016, da Fundação Cultural do Estado da Bahia.

A obra nasce da pesquisa de Diego Pinheiro sobre o Tempo enquanto consciência da carne, do corpo afrodiaspórico em qualidade de uma performance que é lembrança. Um estudo sobre ausências, os vazios da memória. Uma ausência que permita que algo novo aconteça. Quaseilhas representa um Retorno ao Futuro, um primeiro resultado prático e público desse trabalho de investigação que já dura em torno de três anos.

Nessa busca por um Não-Tempo ou o vazio – que por vezes Pinheiro chama de água parada -, o artista começou a se indagar como performar sobre as ausências e as possibilidades que são geradas no confronto com as memórias, as indagações e fabulações que se dão nesse exercício. A reconstrução de uma memória perdida pelos corpos afro-diaspóricos ao longo desses quatro séculos de diáspora: a oportunidade de preencher as lacunas deixadas pelo esquecimento com o exercício de inventar.

E nesse exercício de apagar o esquecimento, o artista exercitou um olhar para sua família Araújo, enraizada no bairro de Alagados (Itapagipe), na Cidade Baixa de Salvador, onde a relação com as águas e seus movimentos sempre tangenciou o cotidiano, emerge a escrita em forma de oríkì, uma forma literária yorùbá, que reverencia os feitos de uma família, de uma comunidade, de uma pessoa ou de um ancestral.

Uma identidade em forma de literatura oral, declamada ou cantada. Os oríkì construídos por Pinheiro em língua portuguesa foram traduzidos para língua yorùbá, pelo tradutor e consultor Misbah Akanni, e assim será cantado pelos alárìnjó.

Quaseilhas também marca uma inspiração na teatralidade yorùbá, por meio dos alárìnjó, uma arte que envolve dança, teatro, canto e máscara para reverenciar os ancestrais e data do século XVII, sempre envolvendo o uso de máscaras, a manipulação de instrumentos musicais, virtuose física e a circulação pelos territórios, para contar histórias e nasce do culto aos Egunguns. A partir da inspiração na forma tradicional teatral nigeriana, que os performers atuam de forma integrada: Diego Alcântara, Laís Machado e Nefertite Altan serão Alárìnjó, cantando oríkì e também evocando suas lembranças e memórias ancestrais, também criando melodias e modos de performar rompendo os limites entre as linguagens artísticas.

A experimentação na linguagem artística excederá o lugar do corpo, chegando também na cenograa, que prevê a construção de todo um espaço que evoca as antigas palatas de Alagados, e que se concebe para facilitar os jogos atmosféricos propostos pelos Alárìnjó. O público estará dentro do ambiente, concebido pelo diretor Diego Pinheiro e pelo cenógrafo Erick Saboya, e das sonoridades compostas pelos diretores musicais Ubiratan Marques e André Oliveira, este que estará em cena ao lado dos músicos Sanara Rocha e Gabriel Batatinha. A visualidade do espetáculo ainda conta com a gurinista e maquiadora Tina Melo, o iluminador Luiz Guimarães e a captação projeção de vídeos por Nina La Croix e Ani Haze.

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